Estou tirando proveito da leitura de Os subterrâneos, de Jack Kerouac, ao desistir de sequências de informações em uma gramática realista. Os parágrafos são longos e a pontuação de pausa dentro deles é rara. Quando você se entrega a um texto desse, se vê dentro de diversos ambientes retratados por Kerouac quase que ao mesmo tempo.
No romance, os subterrâneos são os frequentadores do underground de São Francisco na primeira metade da década de 50, no mínimo. É uma mistura de jazz, drogas, sexo e literatura. Para mim é mais fácil identificar esse movimento a partir da referência a escritores beatniks como o próprio Jack Kerouac. Não consigo fazer um desenho mental de um hipster. O hipster é mais o personagem de um romance como On the road, por exemplo. Ao mesmo tempo que ele está atrás de experiências que a vida concreta pode oferecer, também está ligado a um grupo intelectual.
Eu tenho uma relação dúbia com os hipsters de On the road e de Os subterrâneos. Tenho afinidade intelectual por conta das influências literárias. Mas isso já é relativo quando o assunto é comportamento. Se na convivência deles há criatividade também há a decadência da sociedade capitalista. É o caso do uso de drogas para conseguir experiências ou inspiração para criar. Apesar de que acho a sociabilidade deles em torno da cultura em si algo maravilhoso. Tive o privilégio de um tipo de convivência como esse sem precisar compartilhar o aspecto não tão criativo. No meio gótico, eu identificava os elementos mais interessados em conversar sobre cultura e chegava a reuni-los em saraus.