GUIMAENS, Eduardo. A divina quimera. Porto Alegre: EMMA/DAC, SEC, IEL, 1978, 93 p.
Na História Concisa, Alfredo Bosi
elogia Eduardo Guimaraens como um dos maiores autores secundários do Simbolismo
brasileiro. Eu li sua obra A divina quimera, publicada em 1916, e gostei
bastante. Pela crítica com que tinha tomado contato, esperava apenas um
passatempo de traça de livro. Mas não tenho formação como leitor crítico. E, se
tivesse, teria que ter um gênio muito grande para falar com propriedade alguma
coisa contra o juízo do Bosi.
Voltando
ao livro, é uma pena que eu não tenha podido ao menos marcar vários poemas de
que gostei. No geral, é como se fosse um passeio solitário, ou com pouca
companhia, pelo corredor coberto de folhas das árvores de um jardim ou
cemitério. E de preferência após o final da tarde. Você expressa as sensações
desse passeio como se não quisesse deixar de viver, à noite, mesmo as coisas
ruins. O que não chega a ser um pesadelo, pois tudo é vivo com fina
sensibilidade, sem espontaneidade descontrolada.
Vou
comentar ao menos a primeira estrofe do poema n. 8. Seguem os versos:
Sobre a tristeza
do passado,
Que sombra vai
descer?
- Lírio entre os
lábios do Prazer,
Murcha o desejo
abandonado
A
"sombra", que pode sugerir lugares-comuns ligados à noite, ganha
aparência de novidade a partir da imagem de que ela possa agir sobre o passado.
Essa palavra, "sombra", lembra, com muita facilidade a cena de
imersão na melancolia.
Tais
conotações tradicionais diminuem quando o termo participa da construção de uma outra
imagem. É aquela relacionada à atitude melancólica quanto a lembranças ruins. Primeiro
elemento desse pesar, que aumenta em um círculo vicioso, é sugerido na
expressão “tristeza do passado”. É a lembrança que abala o melancólico. Nessa
linha de raciocínio, o termo “sombra” é o segundo elemento que compõe a imagem.
Ele traz outra conotação trágica ao que já está sugerindo isso mesmo. Essa
palavra é metáfora para o sofrimento presente - o qual aumenta o que já está na
memória. Através da imagem construída nos dois versos comentados, uma cena da
melancolia é expressa com precisão realista e sutileza estética.