PRAZ,
Mario. A carne, a morte e o diabo na
literatura romântica. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1996, 476 páginas +
ilustrações.
A obra em questão é um trabalho de
referência no campo do romantismo negro. Estudando, nas primeiras partes, duas
das principais literaturas da Europa – a francesa e a inglesa; a outra, não
examinada, é a alemã -, Praz analisa o romance gótico, propriamente dito, das últimas
décadas do século XVIII; o romain noir, romance negro, influenciado pelo romance
gótico; e os textos decadentistas das últimas décadas do século XIX. Pode interessar
muito, ao que aprofunda a sua
sensibilidade em determinados estudos, essas distinções, descritas acima, que
Praz realiza. Elas diminuem a possibilidades de erros como o esvaziamento do sentido
do termo “gótico” na análise indiscriminada de qualquer obra, dos dois últimos
séculos, em que predominam temas sombrios. Mas essas categorias podem não
esgotar as tendências apontadas por Praz.
Considerando apenas os primeiros três
capítulos que tratam de autores individualmente, é estimulante acompanhar uma
seleção de determinados nomes. Por um lado, autores mais visíveis, como Milton
e Byron. Por outro, o de Sade, escritor curioso, mas que se teme comentar em ocasiões
menos especiais. O primeiro torna o Satã medieval mais próximo do leitor; Byron
é o divulgador mais popular e respeitado que continuou a elaborar a figura do
herói romântico. Este é superior à sua comunidade, mas a abandona para
desenvolver sua sensibilidade especial. Por fim, a influência de Sade é
investigada nas fortes reações dos moralistas na desconcertante presença do encarcerado
libertino em autores franceses muito disseminados entre o grande público. Mais
inesperada é a influência do tratamento que Sade confere à milenar figura da
donzela frágil e perseguida. O escritor francês é mais influente, entre os leitores
do século XIX, que Richardson, autor de um romance edificante e oficial como Clarissa.
No final do livro há muitas gravuras
em papel especial. Se a apresentação das obras literárias já chama a atenção de
um leitor pouco iniciado, as gravuras são mais acessíveis ainda para ele buscar
sensações novas.
Se eu tivesse que apontar uma única
qualidade do livro, seria a divulgação de uma erudição em uma linguagem que não
interesse apenas a um público muito especializado.
Ma quem tem um gosto especial pelos
assuntos abordados na obra vai se apaixonar pelas enormes notas que aparecem no
final de cada capítulo. Ali há referências a livros muito específicos ligados a
diversas passagens às quais elas se referem. Há até algumas longas resenhas dos
livros apresentados por conta das notas. É como se o Praz estivesses orientando
o leitor na elaboração de um plano de estudos sobre este ou aquele ponto
abordado nas notas.
Esse trabalho já está esgotado na editora.
Pelo que verifiquei no Estante Virtual, o exemplar usado está muito caro. Pode ser
bom para quem está fazendo muita questão. Mas, para os demais interessados,
vale a pena fazer uma busca e esperar uma oportunidade melhor para adquirir o
livro.
Eu
lembro que, antes de ler sistematicamente ao menos os capítulos mais gerais do
livro, examinava uma ou outra passagem e já ia para as notas. Esse costume
manteve meu interesse ardente pelo texto e me criou uma excelente disposição para
lê-lo mais tarde. Essa leitura aconteceu durante uma pesquisa acadêmica em que
estava envolvido e deu grande suporte para eu viver minha fase mais criativa.
Eu estudava e ficava enlevado o tempo todo. Quando um grande amigo e eu
estávamos em casa, eu saía do quarto e lia, para ele, trechos do livro que
tinham chamado minha atenção. Eu não queria me controlar e só esperava oportunidades
para compartilhar meu entusiasmo. Tenho muito orgulho de ter lido esse trabalho
com mais atenção. Sempre utilizo minhas anotações, pois essa obra é fundamental
na sua área.