terça-feira, 6 de janeiro de 2015

2034

Laguna morrerá aos cinquenta e sete anos. Há alguma coisa a ser feita quando a vida deixa de ser interessante. Calcular vinte anos para o fim faria com que o que restasse da vida tivesse mais valor. Amar de uma maneira melhor. Ou não se importar tanto com quem vai embora. Vinte anos é quase como não se houvesse futuro. Isso existe para o garoto que se vê como o pai de amanhã. E esse não é um tempo contado. Quanto se sabe a ocasião da morte, haverá maior felicidade se coisas boas puderem se repetir. 

Por mais verme que se possa sentir, ainda pode haver orgulho suficiente para se desejar o conforto básico de um animal. Agora, Laguna sente que é ingrato. Sim, ainda se apega a uma felicidade de décadas atrás. Isso é lucro para quem não quer voltar atrás. Ele vê como lucro o que vem do passado. 



II



Especular um prazo para uma felicidade definitiva é como dar uma última chance a ela, colocá-la na parede. Laguna é exigente. Não aceita que uma época perfeita até em suas dores tenha tido um fim.

         Mas, e se contar o tempo for como contar o dinheiro necessário na hora de programar uma viagem tão esperada? É isso, Deus! No fundo, Laguna nunca desistiu da vida. Não que isso seja algo que ele goste de ensinar. Já há muitas pessoas inteligentes no mundo.  Na verdade, essa resistência é como o esforço do garoto em pedir água e comida em um país estrangeiro. Instinto. O que falta é que as coisas não sejam como a corrente de água, tão previsível. Laguna quer que sua vida seja algo que possa causar comoção seja qual for a parte dela sobre a qual ele reflita. 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

EM ALGUMA BALADA

EM ALGUMA BALADA


Há muito dinheiro em jogo em certas coisas. Não adianta pegar aquela menina legal se não tiver gasolina. Até porque dá para meter no banco de trás.
         Ela não se importa, pois quer destruir os escrúpulos na medida em que os homens a respeitem, mas continuem querendo transar com ela. Sim, o sexo pode ser comentado dessa maneira prática. Pode-se sorrir com certa condescendência ao se contar o quanto aquele cara da noite passada é desprezível.
         O dinheiro é uma espécie de pau. E dos bons, pois parece funcionar sozinho. Aquele tênis hipnotiza. É só não ser muito otário. Os sorrisos e os abraços virão logo. E uma garrafa cara continuará a garantir a noite.

         E o cara olha sorrindo para os amigos para verificar o sucesso deles e o próprio. Ele não sairá perdendo, de qualquer maneira, pois dirá que furou. E, por incrível que pareça, os amigos não terão a mínima dúvida. Ficarão até felizes.

HOWE



Ela ainda não se recobrou da surpresa. Quem ela achava ser seu amigo, a avisara de que nunca mais dormiria depois do que tinha para lhe contar. Sua mãe tinha sido abusada por anos durante a adolescência.
Howe se pergunta por que não poderia ter sido com ela, se não seria culpa sua. Agora, pouco importa se está passando pela rua onde estão as lembranças de seus primeiros amores. O fato de não estar com eles é, agora, culpa sua.

Amanhã é dia de ir à faculdade. Mas já não há futuro. Ela nem consegue pensar no quanto poderá sofrer. Sem amigos e festas. Sem voltar para casa e encontrar a família. Como alguém  pode viver no mundo sem o amor dentro de si?! Enfim, ver sua beleza no espelho também não adianta. Howe não quer que a noite seja tão longa.