segunda-feira, 14 de março de 2022

OS SUBTERRÂNEOS

Estou tirando proveito da leitura de Os subterrâneos, de Jack Kerouac, ao desistir de sequências de informações em uma gramática realista. Os parágrafos são longos e a pontuação de pausa dentro deles é rara. Quando você se entrega a um texto desse, se vê dentro de diversos ambientes retratados por Kerouac quase que ao mesmo tempo.

No romance, os subterrâneos são os frequentadores do underground de São Francisco na primeira metade da década de 50, no mínimo. É uma mistura de jazz, drogas, sexo e literatura. Para mim é mais fácil identificar esse movimento a partir da referência a escritores beatniks como o próprio Jack Kerouac. Não consigo fazer um desenho mental de um hipster. O hipster é mais o personagem de um romance como On the road, por exemplo. Ao mesmo tempo que ele está atrás de experiências que a vida concreta pode oferecer, também está ligado a um grupo intelectual.

Eu tenho uma relação dúbia com os hipsters de On the road e de Os subterrâneos. Tenho afinidade intelectual por conta das influências literárias. Mas isso já é relativo quando o assunto é comportamento. Se na convivência deles há criatividade também há a decadência da sociedade capitalista. É o caso do uso de drogas para conseguir experiências ou inspiração para criar. Apesar de que acho a sociabilidade deles em torno da cultura em si algo maravilhoso. Tive o privilégio de um tipo de convivência como esse sem precisar compartilhar o aspecto não tão criativo. No meio gótico, eu identificava os elementos mais interessados em conversar sobre cultura e chegava a reuni-los em saraus.

sábado, 12 de março de 2022

BLADE RUNNER

 Filme com fotografia e ambientação maravilhosos. Sempre à noite e com chuva. Esses são os elementos que acho perfeitos no filme Blade runner. Eu o vi logo após da leitura de Androides sonham com ovelhas elétricas?, romance em que ele se baseia em alguma medida.

O que eu acho que ficou a dever no filme foi um problema de roteiro. A disparidade de força física entre os androides e os humanos era muito grande para o caçador de recompensas Rick Deckard conseguir sobreviver pelo menos ao segundo dos humanoides - ele enfrentou quatro. 

Confesso que fiquei torcendo para o romance entre a androide Rachael e Deckard. A relação foi turbulenta e com final abrupto no livro, mas no filme o tratamento foi para que o romance se desenvolvesse. Dentro da minha fantasia, as inteligências artificiais merecem uma chance. No filme de Spielberg, I.A., pode-se considerar que, após conviver com os humanos, elas sobrevivem a eles por coisa de milênio. Ao ponto de investigarem, a partir das memórias do último androide vivo que esteve conosco, como nós éramos.

terça-feira, 8 de março de 2022

MIDNIGHT ODYSSEY



Enquanto realizo um trabalho que não exige muita reflexão, sobra concentração para ouvir um pouco de música. Fiz uma escolha feliz ao encontrar algo que me desse prazer. Eu já conhecia o álbum Funerals from de astral sphere, do Midnight Odyssey, de uma ou duas audições. Ele reúne o clima sutil de um teclado de fundo e camadas também sutis do instrumental e do vocal do black metal. Pelo menos nesse disco, essa combinação me agrada. E olha que o álbum tem mais de duas horas

O caminho que eu percorri para chegar no disco do Midnigh Odyssey foi uma pesquisa que fiz há muitos anos dentro do gênero do funeral doom metal. Na época, estava escrevendo minha tese de doutorado, que tratava de temas sombrios colocados em relevância pelo romantismo. Depois de um dia cansativo de trabalho, precisava de um ambiente estimulante para estudar e escrever. Desligava todas as lâmpadas, acendia velas por toda a casa e em torno do meu material de estudo e gastava um tempo pesquisando alguma trilha sonora. Havia já um álbum de que gostava muito, o Antithesis of light, do Evoken, na linha de som de que estou falando. A partir dele, montei uma lista com os nomes básicos do estilo como Thergothon, Disembowelment, Ahab, Skepticism. Há alguns não mencionados de que eu gostava muito, mas cuja relação de nomes e discos eu perdi.

Um problema que há em ouvir música e trabalhar é se você não tem um equipamento com som muito claro ou se precisa se concentrar muito na sua tarefa. Se montar uma lista grande de discos para ouvir, acabará por não ter nem cinquenta por cento da experiência que a audição de tudo isso poderia lhe proporcionar. Para mim, é difícil sair desse ciclo. No final do dia, tenho algumas horas de folga. Mas, nesses momentos, minha disposição maior é para assistir filmes e ler romance.

segunda-feira, 7 de março de 2022

ANDRÓIDES SONHAM COM OVELHAS ELÉTRICAS?

Ontem comecei a leitura de Andróides sonham com ovelhas elétricas?. Esse romance foi publicado em 1968 por Philip K. Dick, que já era autor premiado na ficção científica. Andróides ficará famoso para o grande público com sua adaptação para o cinema Blade Runner: o caçador de andróides

Um dos meus principais passatempos são filmes de ficção científica. Principalmente de extraterrestres e de inteligências artificiais. Agora veio a curiosidade por literatura de ficção científica.  

O romance já ficou interessante a partir de uma descrição de episódio apocalíptico do fim do primeiro para o começo do segundo capítulo. Parece que na década de 90 do século passado, nosso mundo entrou em uma guerra nuclear. Para um azar menor da humanidade, havia planetas para onde os sobreviventes poderiam emigrar. Tinham direito a levar, de graça, um andróide para os servir para o que quer que fosse. Rick Deckard (que vai ser interpretado por Harrison Ford no filme) é um dos milhares que teimam em permanecer na Terra. Em meio a chuvas e poeira radioativas, tinha que fazer sempre exame para atestar sua saúde para as autoridades. Não saía do planeta decadente por causa de seu emprego: caçar andróides. Como ganhava comissão, seria esse trabalho que o ajudaria a realizar o seu sonho de adquirir um animal de estimação que não fosse andróide. Os bichos eram raros depois da guerra e traziam status ao possuidor. O que ele tinha era uma ovelha elétrica. Ela substituía a real que ele perdera.

Para criar uma ilusão de entrada na mente criativa de Philip K. Dick, assisti, logo no início da leitura do livro, 2001: uma odisseia no espaço. O filme de Kubric foi lançado no mesmo ano de Andróides. Tirando os vinte minutos finais - que custo a apreciar até hoje -, dá para perceber o quão convincente era Kubric nos designs das aeronaves e na atmosfera para os padrões até atuais. Pelo menos por tudo o que acompanho desse tipo de filme. Por isso que vou cobrar do livro de Dick o mesmo alcance, mesmo a uma distância de mais de meio século de tecnologia.