sábado, 18 de fevereiro de 2012

Eduardo Guimaraens, A DIVINA QUIMERA


GUIMAENS, Eduardo. A divina quimera. Porto Alegre: EMMA/DAC, SEC, IEL, 1978, 93 p.

Na História Concisa, Alfredo Bosi elogia Eduardo Guimaraens como um dos maiores autores secundários do Simbolismo brasileiro. Eu li sua obra A divina quimera, publicada em 1916, e gostei bastante. Pela crítica com que tinha tomado contato, esperava apenas um passatempo de traça de livro. Mas não tenho formação como leitor crítico. E, se tivesse, teria que ter um gênio muito grande para falar com propriedade alguma coisa contra o juízo do Bosi.
Voltando ao livro, é uma pena que eu não tenha podido ao menos marcar vários poemas de que gostei. No geral, é como se fosse um passeio solitário, ou com pouca companhia, pelo corredor coberto de folhas das árvores de um jardim ou cemitério. E de preferência após o final da tarde. Você expressa as sensações desse passeio como se não quisesse deixar de viver, à noite, mesmo as coisas ruins. O que não chega a ser um pesadelo, pois tudo é vivo com fina sensibilidade, sem espontaneidade descontrolada.
Vou comentar ao menos a primeira estrofe do poema n. 8. Seguem os versos:


Sobre a tristeza do passado,
Que sombra vai descer?
- Lírio entre os lábios do Prazer,
Murcha o desejo abandonado


A "sombra", que pode sugerir lugares-comuns ligados à noite, ganha aparência de novidade a partir da imagem de que ela possa agir sobre o passado. Essa palavra, "sombra", lembra, com muita facilidade a cena de imersão na melancolia.
Tais conotações tradicionais diminuem quando o termo participa da construção de uma outra imagem. É aquela relacionada à atitude melancólica quanto a lembranças ruins. Primeiro elemento desse pesar, que aumenta em um círculo vicioso, é sugerido na expressão “tristeza do passado”. É a lembrança que abala o melancólico. Nessa linha de raciocínio, o termo “sombra” é o segundo elemento que compõe a imagem. Ele traz outra conotação trágica ao que já está sugerindo isso mesmo. Essa palavra é metáfora para o sofrimento presente - o qual aumenta o que já está na memória. Através da imagem construída nos dois versos comentados, uma cena da melancolia é expressa com precisão realista e sutileza estética.