Há
dez anos que escrevo diários. Porém, há até bem pouco tempo, escrevia esporadicamente.
Mas havia intervalos de especial empenho. Quando morei no alojamento da USP,
tirava dois dias da semana para ouvir música clássica - principalmente
sinfonias e obras de piano de Beethoven. Após a audição, anotava as impressões
que tinha sobre as obras.
Trabalhei
como inspetor de alunos por alguns meses no ano passado. Depois que os alunos
estavam dentro das salas, arrumava tempo para escrever. Eu não lembro qual o
estímulo, mas escrevia muito. O caderno era para anotações relativas ao
trabalho. Com o tempo, para não me comprometer, passei a arrancar as folhas.
Naquela
versão de Drácula, com Keanu Reeves, lembro de uma cena em que ele, dentro do
trem na viagem para a Transilvânia, tinha um espaço reservado que dispunha até
de mesa para escrever. Eram cartas muito extensas para a noiva, e até muito
técnicas nas passagens em que descrevia a paisagem e os nativos das regiões que
observava.
Uma
noite, no Madame Freak, vi um estande, o do Diários de Viagem, com diversos
tipos de diários artesanais que mexiam com meu imaginário do século XIX. Na
época não pude comprar, mas, pouco tempo depois, consegui com um intermediário.
Minha proposta inicial era escrever sete páginas por dia, ritmo em que o volume
seria preenchido em mais ou menos dois meses. Iniciava com os assuntos mais
bobos, numa espécie de aquecimento para desenvolver coisas mais elaboradas que
ainda viriam à mente.
Hoje
não escrevo tanto, mas já tenho o hábito e é isso o que me importa agora.
Eu
nunca procurei resolver a minha vida escrevendo, porém, o diário foi uma
oportunidade de eu escolher uma carreira profissional que tivesse o poder de eu
vê-la mais do que um ganha-pão. Apesar de ter formação acadêmica para pleitear
dar aulas em qualquer faculdade do país, creio que não é o momento. Foram
catorze anos de esforços quase ininterruptos e a ideia de continuar, nesse
momento, não me traz alegria alguma. Deveria ter parado depois do mestrado. Fiz
o doutorado logo em seguida e o desgaste foi imprevisível ao ponto de a
conclusão do curso ter sido uma grande vitória pessoal.
Já o teatro é algo que me dá tesão há dez anos,
mas que nunca pude desenvolver com regularidade. Por falta de iniciativa e de
oportunidade, chego a ficar um ano sem apresentar nada. Excetuando, nos últimos
meses, o trabalho que desenvolvi com a companhia Ballet des Ombres. Mas,
basicamente, faço performances femininas.
Até
onde me informei, ator é como qualquer profissão. No início, pode ser
necessário ocupar-se em outra atividade paralela para pagar as contas. Mas, até
agora, estou disposto a isso. É também uma espécie de desafio, de teste, para
saber a que ponto poderia ter ido, no passado, caso pudesse ter me envolvido
mais com essa atividade.
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