"Minha situação é doce e eu levo uma vida triste. Estar aqui não
pode ser melhor: livre, tranquilo, com saúde, sem interesses, indiferente
quanto ao amanhã - de que não espero nada - e esquecendo sem pesar o passado
que eu não vivi. Mas há em mim uma inquietude que não me deixa. É uma
necessidade que eu não entendo, que me comanda, que me absorve, que me eleva
além dos seres perecíveis... Vós vos engana, e eu engano a mim mesmo. Não é
necessidade de amar. Há uma grande distância do vazio do meu coração ao amor
que ele tanto almeja. Mas há um infinito entre isto que eu sou e isto que eu
quero ser. O amor é imenso, mas não infinito. Eu não quero gozar; eu quero
esperar. São necessárias paixões sem limites, que se distanciam para me enganar
sempre. Que me importa o que pode acabar? Eu amo apenas o que parte, se
aproxima, chega, mas não existe. Eu quero um sonho, uma esperança, enfim, que
esteja sempre diante de mim, mas além de mim, maior que minha própria espera,
maior que tudo aquilo que passa; maior que a vida e o mundo. (Deus não existe).