"Tudo me parece sonho, o que vejo - e que é uma brincadeira - com os olhos do corpo. O que eu já vi com os olhos da alma é o que ela deseja e, quando se vê longe, isso é o morrer" (Santa Teresa de Ávila)
Esse é um trecho da autobiografia da católica e mística Santa Teresa de Ávila até perto de seus cinquenta anos, na segunda metade do século XVI. O texto foi pedido por seus confessores, mas tem valor literário que permite ao leitor não necessariamente religioso apreciá-lo. Em "As Fundações", Santa Teresa discorre sobre a abertura de dezesseis mosteiros da Ordem Carmelita, as Descalças, obra que, cronologicamente, cobre a época posterior à fundação do primeiro mosteiro. Por fim, e,há quem diga, sua obra-prima, "O Castelo Interior ou As Moradas", descreve os sete níveis da alma em seu caminho para a perfeição espiritual, trabalho escrito a partir do estímulo de uma visão interior na véspera de um importante evento católico.
Quanto à minha leitura, pretendo terminar esse e obter os outros dois livros. A partir deles, quero compor o texto e o espetáculo de um monólogo. Mesmo que irregularmente, há anos que interpreto personas femininas em performances individuais. Recentemente, meu programa era desenvolver determinada imagem de Maria Madalena. Enquanto no texto "Salvação" - o qual consta nesse blog - esta mulher só intui a intensidade e a abrangência de sua união com Cristo, em Santa Teresa essa experiência é representada de modo muito mais objetivo. Ela refere visões de Cristo, anjos, demônios, companheiros religiosos já finados, a Virgem Maria, profecias de curas e mortes, etc. Chega a dizer da comunicação com boa parte desses entes. Digamos que o "Livro da Vida" é a obra que Maria Madalena não escreveu; e, essa é minha expectativa, parte da obra da mística é a expressão da vida interior perfeita, acabada no caminho escolhido por ela.