Comecei
hoje o módulo 1 do curso de teatro do Estúdio de Treinamento Artístico
(ETA). Eu suspeitava que haveria uma
espécie de eliminação de estudantes logo na primeira aula. O professor, mesmo
em tom amigável, descreveu quais as possibilidades de carreira para um ator.
Enquanto profissão, uma das mais ingratas possíveis. Aí, julgo eu, em termos da
cidade de São Paulo.
Em
não poucos momentos, ele, ainda em tom amigável, perguntava se alguém queria
desistir. Todos se mantiveram em sala, depois dessa explanação e, depois,
começaram os exercícios. Para quem está com um joelho em fisioterapia, até que
eu corri e tive tração na sola dos sapatos na movimentação que todos fazíamos
no palco.
Primeiramente, houve um reconhecimento
do espaço. Caminhávamos por todos os lados, todos ao mesmo tempo. Depois, fomos
orientados a fixar o olhar nos rostos das pessoas com quem cruzávamos nessa
movimentação. A correria ficou por conta
da simulação de entrada em metrô ou trem em horário de pico. Imitamos o que
entendíamos serem palhaço.
Por
último, e o exercício mais complicado para mim, nos abraçávamos em duplas ou
trios. Após algum tempo, havia troca. Tinha corpos com almas dentro e eu não me
toquei em interagir com o que eu poderia pensar sobre meus companheiros. Transformo
emoções oriundas de situações inusitadas em objeto para reflexão estética e
criação artística. Eu me transformo em dois: o que sente e o que analisa o que
sente. Mas lá estavam corpos e almas disponíveis, assim como meu corpo e alma. Ainda
bem que há muito o que pensar de todos os elementos trabalhados em aula e esse,
dos abraços, não passará desapercebido.
Recebemos uma pequena apostila com
orientações gerais visando à formação de uma visão de carreira por parte do
aluno que está iniciando. Tudo o que
fizermos em aula deverá ser repetido em casa. E já temos pesquisa teórica para
o próximo domingo sobre as origens do teatro, cinema e televisão. O professor
quer material escrito que comprove que houve pesquisa e leitura. Agora mesmo
verificarei bibliografia viável de ser lida até a aula e onde posso encontrá-la.
Na
terceira ou quarta aula serão formados os grupos já se pensando na montagem do
espetáculo que encerrará o módulo. Desde minha matrícula, há quase dois meses,
organizei as informações sobre o curso e minha própria capacidade enquanto
projeto de ator. Após isso, defini como objetivo principal a captação de vinte
pessoas, a vinte reais o ingresso, para assistirem ao espetáculo do meu grupo
em duas apresentações. Se não conseguir reunir essas pessoas, tenho que
custear. Dependendo do conflito que o aluno tenha disposição de levar à frente
para não pagar, pode ser levado a juízo, acumulando razoável soma de dinheiro a
ressarcir à escola.
Mas
o ETA, em linhas gerais, pensa bem mais em formar pessoas que ganhem a vida levando o teatro
como coisa séria do que em formar “cobradores de impostos”. Lógico que tem que trazer o público. Mas, por
outro lado, são ossos do ofício, é um aspecto do processo entre outros. É parte
do show.
Uma
razoável autocrítica pode fazer com que não se acredite no próprio espetáculo e
a falta desse brilho nos olhos pode ser algo a desanimar as pessoas em comprar
os ingressos. Você quer fazer o melhor e saberá que estará vendendo um bom
produto. Estou usando um vocabulário que sugere um esvaziamento do aspecto artístico
do teatro. Porém, para quem pensa em carreira, deve-se aliar o desejo de
oferecer – e se oferecer – o melhor com vistas a quem queira ver o melhor. O teatro, no ocidente, tem mais de dois mil
anos, e o público faz parte dessa história. Em suma, a arte dramática tem
valor. A questão é quem reconheça isso ou não.
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