Este é o texto em que pretendo basear meu monólogo no ETA
"Eu
faço de tudo para me sentir bem com o pessoal da favela em que moro. Mas, uma
hora, estarei mentindo para os outros e para mim mesma. Cada vez mais, a cidade
me parece o lugar em que gostarei de passar o resto da minha vida. As ruas são
mais largas, há gente por todos os lados e sempre vejo coisas novas. Tenho medo
de parecer metida, mas fico ansiosa pelo domingo. Colocarei a roupa de que mais
gosto e irei para o centro. Assistirei missa e, depois, tomarei sorvete na
praça. Os cinemas, o Passeio Público, a Rua do Ouvidor, é a glória tudo isso!
Para
todo mundo da favela, passo muito tempo no centro para fazer safadeza, para
encontrar lugar para ficar longe de todo mundo e dos meus pais. No fundo, eu
não me esqueço de onde vim, não tenho nojo. É por isso que me magoo quando me
dizem essas coisas. Parece que estão me expulsando de uma vez e eu não queria
que fosse assim.
Estou perdendo as amigas da infância,
pois quase todas já estão casadas. Eu sei que também deveria casar logo. Quero
ter família, filhos e alguém com quem me sinta bem. Mas é coisa séria e não
posso errar. Abri mão de muita coisa para estudar para viver em um lugar
melhor. Todo mundo aqui também quer isso. Mas não adianta esperar que os outros
nos deem coisas boas, pois vivemos em um buraco. Eles pensam que aqui só tem o
que não presta.
Eu preciso fazer alguma coisa para
continuar a conquistar o que eu quero. Mas estou sozinha. Sei que uma hora vai
acontecer. E apareceu o João. Não aguento. Ele é bonito, gentil e sinto que tem
algo por mim que não é só interesse de homem. Mas também estou com medo. Seu eu
me abrir demais, ele vai ser mais forte e perderei o controle da minha vida.
Como vai ser depois? Ficam olhando para gente aqui na Estação do Lucas e dando
risada.
Não queria desconfiar nem um pouco
dele, lá no fundo. Mas o João muda a conversa do nada, fica olhando em volta e
começa a ser safado. Fico confusa, pois parece outra pessoal. Ele me pede coisas absurdas, fora de hora! Eu não posso
me entregar assim! Quem ele pensa que sou?! Por que não continua a ser tão doce.
Poderia ficar muito mal falada, mas ficaria com o João se as coisas não forem
como eu quero. Mas e se ele não quiser ficar comigo se conseguir fazer essa
loucura antes? Ele tem um bom emprego e mostra interesse quando falo que quero
fazer concurso público. Mas isso não é suficiente, eu acho.
Não tenho coragem para falar essas
coisas para ninguém. Meus pais não vão gostar do jeito do João, e minhas amigas
vão me deixar. Ele está impaciente e estou enlouquecendo. Tem esse doutor que
dá conselhos para mulheres nesse jornalzinho. Não aguento. Serei direta porque
quero uma resposta urgente."
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