segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Contra o amor

Chamo-a ainda uma vez, embora eu não queira, não possa admitir que ela esteja morta. De súbito, ferido da cabeça aos pés, pela visão da minha fraqueza absoluta, aceito a verdade e começo a viver no mundo sem Cecília. Puta que pariu! Nada. Rodeia a terra um hálito hediondo de peidos, de cus arrombados e sujos. Um círculo de papas, nus, as mitras inclinadas sobre um poço, os buracos voltados para o sol, vomitam no abismo. A vida: merda e breu. Futuro e sonho, certeza e segurança, fodam-se. Uma nuvem de pássaros escuros, vinda do mar, e multiplicando-se nos ares, cobre, por um momento, o sol; e uma noite breve, ilusória, escurece a praia e o mar. Freiras centenárias, de hábitos arregaçados, enfiam lixo e bosta na bucetas sangrentas. Um velho, com o rabo na areia, se esporra na mão. Mordo os ovos do engano e os cuspo, mastigados. Porra! Santas velhas, de chifres nos peitos, os brancos pentelhos negrejando de chatos, trepam com jumentos de membros possantes e com bodes, urrando orações negras. As pastoras, enrugadas, sujas, batem pandeiros feitos com o coro do meu saco, as bocas arrolhadas com caralhos. Destino puto e amargo. Levanto-me, olho em redor, vejo-me só. Então, fico de quatro, ponho a testa no chão, enfio os dedos nas beiradas do cu e brado, cago, brado, clamo para o mundo, puto, soluçando, puto da vida, falo pelo rabo, blasfemo pelo rabo, entre os dentes do buraco, que a terra come; cago no chão pela boca, todo eu me transformo em esgoto, cagando palavras. Falar é nada e ninguém mais me ouve, eu não me ouço; ninguém, mais ninguém.  

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