quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O decadentista Huysmans



Ele foi o mais enérgico dos homens... Grande criador de repugnâncias, preparado para o pior e só sedento do excessivo, cruel a um ponto incrível, acolhedor de todos os horrores que se podem imaginar nos humanos, ansioso por bizarrias e por contos que se contariam para um porteiro do inferno; e, de outra parte, com as mãos puras... Emanavam dele os reflexos de uma erudição dedicada ao estranho... Pressentia imundícies, malefícios, ignomínias em todas as coisas deste mundo; e talvez tivesse razão... Quando ele se meteu com a mística, uniu às delícias, ao seu minucioso e complacente conhecimento das obscenidades visíveis e indecências ponderáveis, uma curiosidade atenta, inventiva e inquieta pela obscenidade sobrenatural e pelas imundícies suprassensíveis... Suas estranhas narinas, palpitando, sentiam o que há de nauseabundo no mundo. O repugnante cheiro das tabernas, o acre incenso falsificado, os odores insípidos ou fétidos dos bordéis e dos asilos noturnos, tudo o que mexia com seus sentidos excitava seu gênio… Pode-se dizer que o repugnante e o horrível em todos os gêneros induziam-no a observá-los, e que as abominações de toda espécie tinham por efeito engendrar um artista especialmente feito para pintá-las, dentro de um homem criado especialmente para sofrê-las...

(Descrição de Paul Valéry)


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